Onde
eu estive por tanto tempo? Como não me dei conta de que eu não estava aqui?
Durante tanto tempo vivi como uma segunda pessoa, disposta apenas a viver e
encarar os desafios que a vida me trazia, na tentativa desesperada de vencer os
obstáculos e poder chegar a algum lugar. Mas pra onde tudo isso me levou? Para
o mais fundo de mim mesma, onde nem eu
sabia onde.
Tudo
começou tão bem, e assim durou por um
tempo até que de uma hora pra outra uma avalanche veio me tirar do eixo, me
deixar suspensa no ar. O chão que me sustentava desapareceu, como me foi
mostrado em sonho. Um sonho tão nítido e
tenebroso que virou realidade e
nele eu vivi durante muito tempo.
Minha
busca por um chão firme e seguro durou
anos. O tempo passou e nada mudava. Deixei de sonhar. Habituei-me à solidão. A
cada dia uma nova dor assaltava meu coração cansado até que num belo dia uma
luz apareceu no fim do túnel.
Que
luz era aquela? Por que ela se apresentava depois de tanto tempo? O que ela
significava? O que o meu plano divino marcava nas entrelinhas como surpresa pra
mim? Seria mesmo uma surpresa boa ou mais um desafio doloroso a vencer? Mas era
luz! Por que eu temi aquela luz? Eu precisava ter coragem para compreender, e
então de repente olhei-me no espelho da minha alma e vi uma figura conhecida, mas praticamente esquecida, e chorei. Chorei
muito porque aquela imagem era eu mesma!
O que eu tinha feito de mim? Por que sofri tanto tempo sendo que eu
estava tão próxima? Por que nunca me ocorreu a ideia de buscar a mim mesma lá
dentro de mim? Medo? Com certeza me protegi por tempo demasiado, pois imaginava que nada mais seria como eu
tinha planejado. Foi muita dor. Enfrentei uma verdade cruel mas que finalmente me libertou.
Permiti
que aquela imagem ressurgisse e se tornasse real novamente. Senti o chão firme
sustentando meu ser; o ar suave trouxe uma brisa que preencheu
minha alma de esperança. Vivi aquele momento
com alegria para comemorar o
reencontro com a minha verdadeira
identidade.
Quando
me olhei no espelho de cristal senti uma ponta de desesperança
pois o tempo tinha passado, mas me agarrei com
todas as forças na realidade para poder
seguir em frente.
Não
sei onde tudo isso pode me levar, mas não tenho medo. Quero viver, sentir o
gosto doce da vida e me deixar embalar por ela enquanto durar. Reencontrei-me.
ResponderExcluirEsse resgate me trouxe de volta à vida, mas como tudo o que está aprisionado, quando é libertado mostra-se ávido por recuperar o tempo perdido. A confusão dos sentimentos libertados espalhou-se como areia num vendaval, e eu me perdi. Junto com os milhões de grãos de areia juntei os pedaços de mim e comecei o trabalho de recomposição. Assustei-me diante do estrago, pois notei que a força detida tinha se transformado em um grande inimigo e que era preciso domesticá-la para que ela pudesse ser benéfica à minha nova realidade. A alma humana é uma criança que exige cuidados especiais e por total falta de tato espiritual permitimos que ela seja castigada por nossos erros quando deveria ser compreendida e amparada. O medo que criamos como um monstro dentro de nós, devora a nossa capacidade de perceber e enfrentar o ratinho que aponta o nariz em nossa direção em busca de alimento, e ao invés de libertá-lo com um pedaço de queijo aprisionamos seu poder para nos devorar. Felizmente a luz que me libertou providenciou para que eu logo percebesse que eu poderia e deveria colocar cada coisa em seu devido lugar e continuar em frente na nova condição de alma livre.
Lindo!
ExcluirGratidão.
<3