sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Esperança


Não há o que fazer. Só posso esperar. Há tão pouco tempo encontrei uma alma companheira, amiga, e ainda nem tivemos tempo de nos olharmos nos olhos. Suas últimas palavras foram de medo do desconhecido, de uma sensação fortíssima de que algo muito grave estava para acontecer. Creditei esses sentimentos ao forte anseio que ela tinha de um reencontro com a filha, quando pudessem se abraçar e deixar que os sentimentos mais puros pudessem uni-las novamente, mas hoje sei que seu pressentimento era real. Que as nuvens escuras que ela dizia estarem cobrindo toda a cidade, havia já uns dois meses, se precipitaram através do descontrole total das forças da natureza, que arrastaram e arrasaram cidades, ceifando centenas de vidas e destruindo sonhos de felicidade.

Meu coração dói. Sangra. Passo o dia com um único pensamento: encontrá-la novamente. Rezo, imploro a intercessão divina de minha amada Mãe Maria para trazê-la de volta, viva, mas lá no fundo da minha alma eu tenho medo. Desejo encontrar um meio de saber notícias, mas até agora todas as tentativas foram infrutíferas. Meu Deus, o que estamos vivendo? São dias de terror! E as pessoas que sobrevivem, buscam a força em seus corações arrebentados de dor, e que parecem vir de uma fonte nova e desconhecida. Será?

Não será a mesma fonte que tem nos alimentado desde sempre? Vivemos as dores lancinantes de um parto gigantesco que nos trará a Nova Era, mas até lá suas contrações e gemidos parecem arrasar as almas com o intuito de consumir todas as iniquidades dos homens e libertá-los do passado definitivamente. Toda a terra parece explodir. Suas entranhas estão expulsando todo o fel que nela depositamos ao longo de toda a nossa existência, e esse vômito incessante queima com o poder do fogo purificador. Se estamos aqui é porque também precisamos nos libertar de todo o veneno que emperra a nossa evolução, permitindo que esse fogo consuma todo o mofo, o encardido de nossas almas através desse sofrimento, para liberarmos, gradativamente, as minúsculas asas que começam a surgir em nossos corpos mais sutis, e um dia podermos voar em direção à nossa casa num plano de vida superior, onde não haja mais dor nem separação. Apenas o eterno.

Mas até lá eu gostaria muito de poder caminhar ao lado da minha amiga querida. O que terá acontecido? Busco sua imagem desconhecida por todos os rostos doloridos que desfilam nesse cenário de horror, e não a encontro.

Não vou desistir. Continuarei rezando por todos e por ela também, na esperança de retomarmos nossa caminhada do ponto em que paramos.

Tenho medo, mas também estou cheia de esperança.

Te espero.