sábado, 23 de outubro de 2010

O Mal


A primeira linha de defesa contra o anseio do mal é estar ciente de que ele existe.

"O homem justo que serve a Deus... está completamente ciente da batalha deflagrada pelo anseio do mal. [o anseio do mal é como] o ladrão que está no caminho [que conduz] à adoração a Deus. [O homem justo] está ciente do perigo, e está sempre alerta para evitar uma armadilha. Ele também sabe como avisar os outros do perigo que estes ladrões representam... Todavia, o homem mau... aprecia sempre os embustes do anseio do mal e diz: "Estou em paz __ não existe perigo neste mundo."

Os que estão cegos às armadilhas do anseio do mal são como as pessoas imprevidentes da Judéia, que foram embaladas pelos falsos profetas que proclamavam: __Paz, paz __ quando não havia paz. É isso que o anseio do mal murmura ao nosso ouvido quando nos tenta a sair da senda de união com o nosso Eu Superior.

"Quando uma pessoa vir que imaginações malignas a estão assaltando, deverá ocupar-se com a Torá e elas passarão... Sempre que o homem vai para a direita, a proteção do Ser Sagrado, bendito seja Ele, está sempre com ele e o Outro Lado não tem poder sobre ele. Este mal é humilhado perante ele e não pode dominá-lo. Mas quando a proteção do Ser Sagrado, bendito seja Ele, se afasta dele, por causa do seu apego ao mal, então este mal, vendo que ele está sem proteção, começa a controlá-lo imediatamente, e acaba por destruí-lo. Então é dada autoridade ao [mal] e ele leva a sua alma."


Por que Deus permite que o mal exista?

Vimos como o Zohar responde à questão: de onde vem o mal? Mas quando o mal emerge, por que Deus permite que ele exista?

Alguns cabalistas acreditam que em vez de destruir o mal imediatamente, Deus incumbe os justos de destruí-lo em seu nome. Segundo entendo, estamos no mundo inferior porque, em algum momento, em algum lugar, demos uma parte de nós mesmos ao Outro Lado. Deus manda-nos de volta para o mundo inferior para que possamos resgatar o carma que adquirimos quando permitimos que a luz das sefirot fosse roubada pelas forças da Din caída. O processo para transmutar o nosso carma precisa incluir a defesa da justiça e a luta contra o julgamento severo e desprovido de misericórdia.

O Zohar também ensina que Deus usa o mal para castigar os malvados e para testar a têmpera da nossa determinação de regressar à Árvore da Vida Eterna. Para ilustrar como Deus usa a inclinação maléfica para nos iniciar, o Zohar usa a alegoria de um príncipe que é posto à prova pelo pai. O rei manda que o seu único filho nunca se relacione com uma mulher má. Por causa do seu amor pelo pai, o filho aceita obedecer a vontade do pai. Um dia, o rei decide pôr o filho à prova. Manda vir uma linda sedutora para conquistar o príncipe.

Se o filho for digno e obediente às intruções do pai, diz o Zohar, ele irá censurá-la e mandá-la embora. Então o rei terá grande regozijo, convidará o filho para a câmara mais secreta do palácio e dar-lhe-á presentes e grandes honras. "Quem terá trazido toda essa glória sobre o filho"?, pergunta o Zohar. "A prostituda, sem dúvida!... Ela deveria ser louvada de todas as formas... porque permitiu que o filho ganhasse todo este bem e o amor profundo do rei."

Quando estiverem tentados a afastar-se da senda da probidade e a violar as leis de Deus em maior ou menor grau lembrem-se do rei, do príncipe e da prostituta. E lembrem-se que Deus tem o direito de nos pôr à prova, nós temos o direito de ser postos à prova e temos o direito de passar __ ou falhar __ em nossos testes.

O Zohar também cita as provas de Abraão e dos israelitas no Egito para mostrar que Deus usa o mal para testar e purificar os seus filhos.

"Abraão desceu ao "graus mais baixos" no Egito e sondou-os até o fundo, mas não se chegou a eles e voltou para o seu Mestre. Não foi seduzido por eles, como Adão, que chegou àquele nível e foi então seduzido pelas serpentes e trouxe a morte ao mundo. Nem foi seduzido como Noé, que se embebedou... Mas de Abrãao foi escrito: "E Abraão foi para o Egito" (Gn.13:1). Ele foi para cima e não para baixo e voltou ao seu palácio, para o nível mais alto a que se tinha ligado no princípio [isto é a sefirah Hesed (Amor), a primeira das sete sefirot inferiores]...

O mistério neste caso é o seguinte: Se Abraão não tivesse ido para o Egito e não tivesse purificado ali primeiro, ele não teria tido uma porção do Ser Sagrado, bendito seja Ele. O mesmo aconteceu com os seus descendentes: o Ser Sagrado, bendito seja Ele, desejou fazer deles um só povo, um povo perfeito, e trazê-los para junto de Si. Mas se eles não tivessem ido para o Egito primeiro e sido ali postos à prova, não teriam sido o povo escolhido de Deus."

Isaías Tishby diz que o ensinamento do Zohar sobre Abraão e a descida dos israelitas ao Egito significa que todos somos postos à prova e purificados por meio do nosso contato com o poder do mal. "Para alcançar a perfeição no seu desejo de servir a Deus, o homem precisa primeiro entrar no domínio do mal e purificar-se ali como num cadinho refinador". "Só depois disto poderá ascender ao nível do bem perfeito... O homem precisa provar a sua devoção a Deus lutando com o Seu adversário, e voltando vitorioso da batalha".


Texto extraído do livro: "Cabala - O Caminho da Sabedoria" de Elizabeth C.Prophet

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