A vida me levou a perceber pelo menos um
fato central: o ser humano é uma aura que possui um corpo físico, e não o
contrário.
No entanto, no dia a dia, a aura está colocada sob nossa influência
direta e a verdade é que, como usuários, nem sempre estamos à altura da nossa
responsabilidade.
Nosso corpo é dado pela natureza como um empréstimo. Dentro de
determinadas condições, podemos usá-lo durante cerca de um século, antes de
devolvê-lo; mas isso vai depender do que fica registrado a cada dia no campo
eletromagnético sutil que nos rodeia. Tudo o que fazemos alcança e transforma a
nossa aura. Se administrarmos melhor o potencial de vida que foi dado a nós,
isso se traduzirá em um melhor campo energético ao nosso redor.
Para repor diariamente a vitalidade da aura magnética que rodeia nosso
corpo físico, é útil, por exemplo, manter o hábito de caminhar no final da
tarde durante cerca de 40 minutos. Faz bem subir e descer pelos caminhos
de um parque natural, assim como respirar vigorosamente o ar puro no meio das
árvores de uma paisagem natural, sentindo no rosto a força do vento. É
recomendável, nestes passeios, atravessar um riacho para sentar-se sob uma
árvore no meio do mato, e meditar por cinco ou dez minutos. O bom uso das
forças vitais, mentais e espirituais é uma fonte de felicidade. Quando voltamos
para casa, tudo ao nosso redor parece mais agradável.
Cada ser ou objeto tem um campo eletromagnético e espiritual que o
rodeia. No caso humano, esta aura constitui um halo de luz invisível. É
verdade que não há motivo para tentar “ver” as auras. Fotografias Kirlian
captam apenas os seus aspectos mais externos e são interessantes como
curiosidade. Em pouco mais de 99 por cento dos casos, os
“clarividentes” são levados por suas fantasias e apenas desinformam o público.
Os seus livros são úteis para as oficinas de reciclagem de papel e para as
usinas de lixo. É aconselhável, portanto, optar pelo bom senso e deixar de lado
a curiosidade por fenômenos enganosos que não dizem respeito à alma imortal,
mas apenas distraem os ingênuos, afastando-os do verdadeiro caminho do
autoconhecimento.
Há, no entanto, algumas indicações seguras sobre o aspecto geral da aura
humana média. Segundo Helena Blavatsky, as cores da parte mortal da aura
humana, começando dos níveis densos para os sutis, têm as cores violeta,
laranja, vermelho e verde. Já na parte imortal da alma, o azul anil corresponde
à mente superior. O amarelo é a cor da intuição espiritual, do sol e da
sabedoria eterna. O nível mais elevado, átmico, resume toda a escala
das cores anteriores, e o ovo áurico, ou limite externo da aura, é azul. [1]
Mas não se deve visualizar esta descrição mecanicamente. Na dinâmica da
vida, a forma da aura e os seus jogos de cores são altamente sensíveis e
mutáveis e se alteram a todo instante. Além disso, cada princípio ou nível da
consciência contém em si sete sub-níveis de diferentes cores e formas, de modo
que a dinâmica de luzes da aura é extremamente complexa, variada e
mutável.
A aura de um ser ou objeto não está apenas em torno dele. Está também no
seu interior. Ela envolve, contém e anima os nossos vários eus. Assim como os bebês navegam no líquido amniótico da placenta
materna, nós vivemos imersos em nossa aura, invisível e vital.
Cada vez que uma criança vai nascer, a sua alma imortal projeta, sobre a
tela básica de vitalidade física dada por seus pais, o seu próprio material
acumulado de vidas anteriores e suas perspectivas futuras. Desde o momento da
concepção, a alma que renascerá se aproxima gradualmente do processo e passa a
lançar sobre ele, de modo ativo e predominante, os conteúdos depositados no seu
ovo áurico ou aura imortal.
Durante a vida física, nosso cérebro trabalha selecionando lembranças,
fazendo associações e processando conhecimentos que estão registrados na luz astral da nossa aura. O cérebro físico é
apenas um instrumento da consciência. Ele é um processador de dados através do
qual a alma opera em diferentes mundos geometricamente concêntricos, cujas
densidades são bem diferentes.
Qual é o ponto mais importante da aura? A essência espiritual de um ser,
ensina Helena Blavatsky, é a mônada.
A mônada evolui desde a condição de um cristal ou pedra, no reino
mineral, passando pelos reinos vegetal e animal ao longo de extensões
incalculavelmente longas de tempo, até chegar ao reino humano. E depois do
reino humano a mônada alcança o mundo divino, onde ainda continuará progredindo. Há
setecentos anos, Jalaluddin Rumi escreveu uma passagem que poderia
ser chamada de “autobiografia de uma mônada”:
“Morri como mineral e me transformei em uma planta; morri como animal e
vi que era homem. Por que teria algo a temer? Nunca perdi nada por morrer. Mais
uma vez irei morrer como homem para elevar-me à altura dos anjos abençoados;
mas avançarei um dia até além do nível dos anjos. Tudo o que não é Deus,
morre”. [2]
E o poeta brasileiro Múcio Teixeira disse a mesma idéia com outras
palavras:
Morri no mineral,
para nascer na planta.
Fui pedra e fui semente,
brilhei no diamante e no cristal luzente.
Fez em mim o seu ninho
o pássaro que canta.
Passei às formas do animal,
Vendo indistintamente uma luz na outra banda.
Do animal passei à forma do homem,
faísca que desceu às cinzas e às brasas.
Mais tarde acenderei a luz eterna que é Deus. [3]
A mônada humana é a fonte superior da vida da aura. É o ponto no centro
do círculo de uma vida, ou de uma aura, humana. A aura é a circunferência,
a atmosfera que rodeia a mônada e registra tudo o que ela faz
através dos seus instrumentos mentais, emocionais e físicos, e todos os seus
avanços e progressos.
O principal elemento estruturador da aura é a vontade humana central, a
sua prioridade como ser. Uma vontade elevada purifica a aura. O desejo
inferior a contamina. Para a filosofia esotérica, a Bíblia está certa quando
afirma:
“O que se planta, se colhe”.
Cada desejo e cada fato, grande ou pequeno, fica registrado na luz astral da aura do indivíduo - e produz os seus efeitos. Os desejos e ações
mais centrais e intensos, em torno dos quais se estrutura a nossa vida
cotidiana, são os mais importantes na formação da substância da aura.
Mas como funciona, na aura, o registro cármico das nossas ações
físicas, emocionais e mentais?
Quando duas ou mais pessoas estão fisicamente próximas, suas auras
ocupam o mesmo espaço físico e há vários tipos de interação e influências
recíprocas. A aura registra a cada momento as trocas energéticas e os
pensamentos, sentimentos, ações e intenções do ser humano que ela anima. A
aura não separa o cidadão do mundo; mas, ao contrário, faz a sua ligação
com ele. É através dela que cada ser humano influencia os outros e é
influenciado. Ela fornece a sensibilidade e o ponto de vista a partir do qual
ele dá significado às coisas que lhe acontecem, reage diante dos fatos
externos, emite energias e deixa sua marca no mundo.
Carlos Castaneda escreveu que, para os guerreiros de sabedoria, os seres
humanos são conglomerados de campos energéticos que têm a aparência de bolas
luminosas. “Eles notam que cada uma destas bolas luminosas está individualmente
conectada com uma massa energética de proporções inconcebíveis que existe no
universo: uma massa que eles chamam de mar escuro de
consciência. Eles perceberam que
cada bola individual está conectada ao mar escuro de
consciência em um ponto que é
mais brilhante que a bola em si mesma. Os xamãs lhe dão o nome de ponto de união ou ponto de aglutinação(...)”. Castaneda
escreveu também: “A verdadeira luta do homem não é com seus semelhantes, mas
com a infinitude;e nem se trata de
uma luta, mas, essencialmente, de uma aceitação. Devemos aceitar
voluntariamente a infinitude. Nossas vidas surgiram da infinitude, e devem
terminar onde começaram: na infinitude.” [4] Você pode e deve conhecer o infinito enquanto tem
saúde e lucidez. Na verdade, esta é a grande oportunidade para obter tal
conhecimento; e esse aprendizado ocorre através da comunhão
interior.
Cada nível da nossa atmosfera psíquica pessoal habita um mundo
diferente.
A aura vital, por exemplo, determina o jeito como a vitalidade é usada e
como ela se renova. Esta camada tem dois aspectos. De um lado, o prana, a
vitalidade propriamente dita. De outro, o linga-sharira, o conjunto de formas
abstratas e arquetípicas que conduzem concretamente a vitalidade na tarefa de
construir e manter o corpo físico. Esta aura vital é fortalecida pela
homeopatia, pela acupuntura, pela ginástica meditativa, ioga, taichi-chuan.
Também é purificada por práticas como natação, alimentação correta, exercícios
de respiração e passeios na natureza. A boa saúde do sangue é especialmente
importante. A aura vital é tão viva quanto o nosso corpo físico, mas muito
mais sensível que ele. O que fazemos, pensamos e sentimos tem influência sobre
ela.
Depois vem a camada emocional da aura, com suas sub-camadas. Ela
corresponde ao princípio kama, em sânscrito, e é o conjunto de
sentimentos e emoções que povoam o nosso mundo interior. Se você cultivar
sentimentos corretos, eles influenciarão as pessoas com quem convive. Quando
purificada, a aura emocional se abre para os sentimentos superiores e nos
conecta com o mundo divino. É verdade que “o reino dos céus está dentro de
nós”. Mas isso não significa que ele está dentro do nosso corpo físico. Está
em nosso eu superior, nossa alma imortal, que flutua em torno do nosso corpo, e
não fica presa exatamente “dentro” dele.
Nem sempre é fácil purificar o nível emocional.
Um dos principais obstáculos surge de um fenômeno que poderíamos chamar
de “pressão atmosférica oculta”.
A aura densa de um local, ou de certas pessoas, tem um poder de pressão
sobre aquele que tenta erguer-se.
As novas emoções, mais puras, não conseguem impressionar, no início,
pessoas cujas emoções são materiais ou egoístas. Ao contrário, aquele que
pretende erguer-se em direção ao mundo divino é, normalmente, atacado por quem
se identifica com o mundo inferior.
O mero processo de auto-aperfeiçoamento de um cidadão pode ofender outra
pessoa que considere “impossível” trilhar o caminho espiritual. Além
disso, os velhos padrões vibratórios, agora suprimidos, tentam voltar à
atividade e recuperar seu lugar na aura do aprendiz, enquanto os novos padrões
ainda têm pouca força de hábito.
Durante uma longa etapa, o praticante tem de avançar no caminho do
crescimento emocional enquanto corre o risco de mergulhar na aparente
solidão, por um lado, ou de ser arrastado novamente para baixo pelas
emoções dos outros e pelo clima psicológico desafiador que o rodeia, por outro
lado. Cair e levantar é normal neste estágio da luta. “É errando que se
aprende”, diz o ditado popular.
Quando o guerreiro da sabedoria alcança o reservatório ilimitado de
energias em seu mundo interior, sua força passa a ser maior que todas as
pressões ocultas externas.
Para diminuir os riscos da caminhada, ele deve ter cautela, buscando
rodear-se de influências benignas e inspiradoras. É essencial desenvolver
o poder da vontade, e apontar este poder para o alto. Ele deve
simplificar a vida. É preciso cortar as metas supérfluas e morrer,
psicologicamente, para o mundo egoísta. Quanto aos seus relacionamentos, o
guerreiro não pode aceitar em sua aura nenhum rancor profundo ou
duradouro. O seu desapego será testado. Se quiser alcançar a sabedoria,
terá de abrir mão gradualmente de mais e mais coisas que ama.
Mas, depois da camada emocional, temos a aura mental.
A sua natureza é dupla. Uma parte dela olha para baixo e responde aos
interesses do corpo físico e das emoções animais. Outra parte olha para a alma
imortal e busca o mundo divino.
No plano coletivo, esta mente superior vive na primeira parte do século
21 um gradual despertar, enquanto a parte inferior da mente humana socialmente
estruturada provoca uma crise após a outra. O mesmo contraste existe na
aura individual de cada cidadão. O círculo vicioso do egoísmo não é mais
capaz de resolver os problemas que ele mesmo provoca.
As crises que a vida coloca diante de nós devem ser respondidas com
novas estratégias, mais altruístas. Os próximos passos só podem ser dados pela
mente superior, criativa e solidária. Mas ainda estamos aprendendo a colocá-la
em funcionamento na vida concreta. Este é o grande enigma que deve ser
resolvido, na primeira metade do século 21, pelas pessoas do bem.
A aura mental registra nossas possibilidades intelectuais, nossas
opiniões, nossa capacidade de aprender, e todo o carma dos nossos pensamentos.
As ideias e sentimentos que alimentamos são habitantes da nossa
aura. Estes seres, semi-inteligentes, são chamados de “elementais” pela
filosofia esotérica. Eles nos influenciam de vários modos sutis, e nos induzem
a realimentá-los. Atuam principalmente através dos nossos hábitos,
tendências, desejos, opiniões, objetivos, medos e esperanças. Por isso devem
ser disciplinados. Os sábios ensinam que a melhor e a mais eficaz de todas as
defesas psíquicas é a pureza e a força do pensamento. Se os elementais
moradores da nossa aura forem adequados, teremos um escudo invejável. Não
precisaremos de talismãs e rituais, nem de promessas feitas a algum santo em
troca de proteção.
Os sentimentos inferiores e impuros são as toxinas da alma animal que
faz parte do ser humano. A aura pode ter uma inflamação ou adoecer. É nela
que se determina, de fato, o nosso estado de saúde física e emocional. A
boa saúde exige, entre outras coisas, grandeza interior e capacidade de
renunciar. Porém, a purificação não consiste em desistir de ter uma vontade
forte. Ao contrário. Para trilhar o caminho espiritual é necessário ter
muito mais coragem e firmeza do que os seres desinformados que atuam como
egoístas ambiciosos.
De um lado, há cinco boas ferramentas para melhorar e preservar a
qualidade de vida da nossa aura:
1) Renunciar ao que é supérfluo;
2) Não preocupar-se com o que está fora do nosso alcance;
3) Abandonar desejos inúteis ou pensamentos ociosos;
4) Definir metas pessoais elevadas; e
5) Concentrar-se construtivamente no que de fato depende de nós.
Mas, de outro lado, estes cinco pontos dependem de uma
determinação inalterável, temperada com respeito e amabilidade para com
todos.
A preguiça e outros sentimentos negativos acumulam vários tipos de lixo
na aura. A coragem, a autoconfiança e a confiança nos outros seres
reforçam o poder e a vitalidade da mônada espiritual, a essência da alma
imortal. A mônada vive eternamente em unidade com toda a vida e por isso
confia no universo. É a atividade da mônada espiritual que mantém a luminosa a
aura humana.
De acordo com o temperamento e o grau de evolução individual da alma,
diferentes setores da sua aura são maiores e mais desenvolvidos. Para
alguns, a vitalidade pode vir primeiro. Para outros, é
a intelectualidade, a intuição, ou a emoção, que vem antes.
Não há duas auras humanas exatamente iguais.
As várias dimensões da aura individual são inseparáveis entre si e
influenciam umas às outras o tempo todo. Vale para elas o lema
“um por todos, e todos por um”.
Um pensamento positivo desperta uma emoção elevada, que aumenta a
vitalidade e faz bem ao corpo físico. Um sentimento solidário expande o
magnetismo pessoal, que expulsa os medos, que despertam pensamentos amplos e
filosóficos, que nos conectam mais diretamente com a parte imortal da nossa
aura.
O “anjo da guarda” é, na verdade, a parte imortal da nossa aura.
É nosso eu superior.
Acima da camada mental, existe o nível da mônada, atma-buddhi em sânscrito. Segundo um raja-iogue dos Himalaias, a mônada fica
situada pouco acima da cabeça humana, e constitui a fonte de inspiração para a
auréola pintada pelos artistas de obras religiosas no alto da cabeça de
Buda, Jesus e outros grandes instrutores. É pela mônada
que você faz contato com o cosmo e com a massa infinita de consciência,
citada por Carlos Castaneda. Ela é o seu ponto de conexão com a
infinitude.
Finalmente, na parte mais externa da atmosfera pessoal, o ovo áurico é o
“manto” que envolve nosso verdadeiro eu, estabelecendo sua marca e sua presença
no oceano da vida.
O ser humano é um microcosmo. O que existe em pequena escala é como o
que existe em grande escala. Quando a aura pessoal é luminosa e imune aos
impulsos animais cegos, ela passa a ser transparente. Então há um pleno contato
entre corpo, cérebro e emoções. O sentir, o pensar e o atuar estão em
harmonia. Esta condição microcósmica permite um alinhamento entre
alma mortal e alma imortal, que são a terra e o céu em nosso interior. Na
mesma medida, a nossa alma imortal obtém um alinhamento consciente com o cosmo
e a infinitude, no âmbito do nosso sistema solar. Assim ocorrem as
verdadeiras experiências iniciáticas.
Seja qual for nosso estágio de desenvolvimento, tudo o que nos diz
respeito está sendo processado em nossa aura o tempo todo. As
pequenas preocupações do dia-a-dia, com suas esperanças e contratempos,
produzem seus efeitos, assim como a presença da sabedoria eterna.
Na aura de cada indivíduo está o portal de acesso para a luz que ilumina
as almas, e a força que sustenta o cosmo. O caminho do
auto-conhecimento é, na verdade, o caminho da percepção direta desse fato.