Atanásio não entendia a humanidade de Jesus porque não podia compreender como alguém poderia ser humano e divino ao mesmo tempo. Para ele, esta era uma equação impossível. Ou Jesus era humano (e, portanto, mutável) ou era divino (e, portanto, imutável).
Esta visão ortodoxa, que define Jesus como Deus, baseia-se, em parte, numa interpretação incorreta do Evangelho de João, onde lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele, nada do que foi feito se fez”. Os ortodoxos concluíram, por estas passagens, que Jesus Cristo é Deus, o Verbo encarnado.
O que eles não entenderam foi que, quando João chamou Jesus de “Verbo”, estava remontando à tradição grega do Logos. Quando João diz que o Verbo criou tudo, emprega o termo grego para Verbo __ Logos . No pensamento grego, o Logos descreve a parte de Deus que age no mundo. Filon chamou ao Logos “Semelhança de Deus, através do qual todo o cosmos foi criado”. Orígenes denominava-o a alma que mantém o universo coeso.
Filon acreditava que grandes seres humanos como Moisés poderiam personificar o Logos. Por isso, quando João escreve que Jesus é o Logos, não está sugerindo que o homem Jesus sempre tenha sido Deus, o Logos. O que João quer dizer é que o homem Jesus tornou-se o Logos.
Alguns teólogos primitivos acreditavam que todos tinham esta oportunidade. Clemente revela que todos os homens tem a “imagem do Verbo [Logos]” dentro de si e é por isso que o Gênesis diz que o homem é feito “à imagem e semelhança de Deus”. O Logos, portanto, é a centelha da divindade, a semente do Cristo que existe nos nossos corações. Tudo indica que os ortodoxos rejeitaram ou ignoraram esta tradição.
Devemos compreender que Jesus tornou-se o Logos, assim como tornou-se o Cristo. Mas isto não quer dizer que apenas ele poderia fazê-lo. Jesus explicou este mistério quando partiu o pão na Última Ceia. Ao pegar o pão, que simbolizava o único Logos, o único Cristo, partiu-o dizendo: “Este é o meu corpo, que é partido por vós”.
Jesus estava ensinando aos seus discípulos que existe um Deus absoluto e um Cristo Universal, ou Logos; que o corpo do Cristo Universal pode ser partido e que, ainda assim, cada pedaço mantém as qualidades do todo. Estava dizendo que a semente do Cristo estava dentro deles, que ele tinha vindo para acelerá-la e que o Cristo não diminuía, mesmo que o seu corpo fosse partido muitas vezes. O menor fragmento de Deus, do Logos ou do Cristo contém a plenitude da natureza divina do Cristo __ que ele desejava tornar nossa.
Os ortodoxos não compreenderam o ensinamento de Jesus porque não conseguiam aceitar a realidade de que todos os seres humanos tem uma natureza divina e uma natureza humana assim como o potencial para tornar-se totalmente divinos. Não compreendiam o humano e o divino em Jesus e, portanto, não podiam compreender o humano e o divino dentro de si mesmos. Por observar as fraquezas da natureza humana, acreditavam que precisariam negar a natureza divina, que ocasionalmente se revela até mesmo nos piores seres humanos.
Livro: Reencarnação o Elo Perdido do Cristianismo de Elizabeth C. Prophet
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