Toda criança concebida tem um plano, um desígnio divino. Alguns dizem que uma criança com deficiência é “indesejada” ou “deficiente” e, portanto, não deveria nascer neste mundo. O renomado pediatra e antigo cirurgião geral dos Estados Unidos, C. Everett Koop, diz o seguinte: “Foi minha experiência constante que a deficiência e a infelicidade não andam necessariamente de mãos dadas. Algumas das crianças mais infelizes que conheci tinham todas as faculdades mentais e físicas e, por outro lado, algumas das mais felizes que conheci suportavam fardos que eu mesmo acharia muito difíceis de carregar”.
De algum modo, todos nós somos “deficientes”. Todos nós temos limitações e imperfeições que, na velhice, podem se tornar bastante severas.
O propósito da vida não é estar livre de deficiências ou de fardos, mas vivê-la ao máximo, ser tudo o que deveríamos ser, realizar a missão pela qual encarnamos.
Quem somos nós para dizer que uma vida não vale a pena? Só Deus pode tomar essa decisão.
Helen Keller provou que vale a pena viver e lutar pela vida. Como poderemos esquecer a extraordinária determinação da arrojada moça cega, surda e muda que superou a escuridão total da sua infância para tornar-se autora, educadora e palestrante invulgar?
O ultraje público em relação à morte, em 1982, de um bebê do sexo masculino com síndrome de Dow ilustra esse ponto. Doe nasceu em uma sexta-feira santa, em 9 de abril de 1982, com síndrome de Dow – um distúrbio genético em que pode haver vários graus de atraso mental e, por vezes, defeitos físicos graves. Os pais tomaram a decisão, ratificada pelo Supremo Tribunal de Indiana e pelo seu médico, de não fornecer alimento e tratamento médico à criança, permitindo que ela morresse, por acharem que nunca seria capaz de usufruir de uma existência “significativa”. Para eles, esse foi um ato de amor.
O bebê morreu de fome e desidratação em 15 de abril, depois de uma tentativa malsucedida de cidadãos interessados que, trabalhando pelo sistema jurídico, tentavam entregá-lo aos cuidados de um dos 10 casais que se tinham oferecido para adotá-lo.
Em 21 de abril de 1982, o Los Angeles Times publicou um editorial da autoria de George F. Will, intitulado: “Quando Matar se Torna uma Conveniência”, e um desenho de Conrad, em que ambos tecem comentários sobre o bebê Doe.
Will escreveu: “Quando um comentarista tem interesse direto e pessoal em um assunto, deve dizê-lo. Jonathan Will, 10 anos e fã dos Orioles (e o melhor jogador de Maryland), tem síndrome de Dow. Ele não “sofre” (como alguns jornais costumam dizer) de síndrome de Dow. Ele não sofre de nada, exceto de ansiedade por causa do mau desempenho dos Orioles. Ele está muito bem, obrigado. Mas é provável que venha a ter bastantes problemas ao lidar com a sociedade – para receber o que tem direito, muito menos simpatia. Ele pode passar sem as pessoas... que afirmam, pelas suas ações, o princípio de que seres como ele estão aquém de serem totalmente humanos”.
O desenho de Conrad, intitulado “Eles Matam Cavalos, Não Matam?”, mostrava um bebê esquelético, deitado em um berço de hospital. Uma nota no berço dizia: “Raio X da Morte pela Fome da Síndrome de Dow”. Em uma carta ao editor (Los Angeles Times, 1º de maio), Donna Parun, de San Pedro, Califórnia, escreveu: “Depois de ter recortado o desenho que Conrad fez do bebê com síndrome de Dow, morrendo de fome no berço, deixei-o na mesa da cozinha. Meu filho de 10 anos, que tem síndrome de Dow, pegou-o e olhou. Ele gosta de ver desenhos e disse: “Mamãe, este bebê – eu? ” E eu respondi: “Sim, ele é como você, mas eu não o deixarei morrer de fome”. Ele olhou para mim e disse: “Ó, por que não?” Ele faz essa pergunta a quase tudo. E eu disse: “Porque te amo, Mathew”. E, retomando o sorriso, ele respondeu: “Eu a amo”.
Em resposta à reação pública sobre a morte trágica do bebê Doe, o presidente Ronald Regan anunciou, em 30 de abril, que a ajuda federal seria recusada a qualquer hospital ou agência de saúde que não dessem assistência médica aos deficientes.
Pessoas nascidas na maior pobreza e nas piores circunstâncias podem elevar-se e tornarem-se grandes líderes, capazes de influenciar os destinos das nações. O presidente Abraham Lincoln nasceu de pais sem instrução e foi criado em uma casa de madeira, nas florestas de Kentucky. O famoso abolicionista Frederick Douglass nasceu e foi criado como escravo. O inventor e gênio da tecnologia Thomas Edison frequentou a escola durante três meses da sua vida porque o professor achou que ele era atrasado mental. Jesus Cristo nasceu em um estábulo, de pais que, pelo menos temporariamente, eram pessoas sem teto.
Existe algo que está acima do corpo e das circunstâncias de nascimento. É o impulso da alma e o espírito que dão caráter, direção e ímpeto a um indivíduo.
Muitas pessoas têm um carma grave. Podem ter cometido crimes horrorosos em vidas passadas, como assassinatos e pedofilia. Tais indivíduos podem, de acordo com a lei do seu carma, ter de reencarnar em circunstâncias que não são ideais. O propósito do carma nunca é castigar, mas nos ajudar a aprender com nossos erros passados e, por vezes, a única forma de o fazermos é experimentarmos em primeira mão o que fizemos aos outros.
As duras lições da vida são muitas vezes o que nossa alma precisa para avançar espiritualmente – não apenas pela expiação do carma, como também por meio de iniciações, testes e sacrifícios.
A família e o ambiente em que nascemos, os amigos, os inimigos e os desafios que encontramos ao longo da vida são parte do maravilhoso e intrincado padrão da vida. Esse padrão da mente de Deus nos é dado para que possamos superar todas as coisas por meio do Cristo que nos fortalece e, no final da encarnação, voltarmos para casa como graduados na escola da terra.
Porque a religião moderna no Ocidente não ensina os princípios do carma e da reencarnação, as pessoas não podem ter uma verdadeira compreensão das muitas situações que nossa sociedade enfrenta. Eliminar a dor e o sofrimento à custa da evolução da alma não é a sabedoria das leis de Deus.
A alma precisa aprender as lições do carma. Se lhe forem negadas essas oportunidades, ela pode ficar isenta dos ingredientes necessários para sua integridade e regresso para Deus.
Mesmo que se saiba antecipadamente que uma criança nascerá com certas deficiências e dificuldades, ela tem o direito de viver para expiar seu carma por meio daquele corpo.
Também devemos nos lembrar de que a situação pode não ser proveniente do carma. Algumas almas muito elevadas se oferecem para encarnar em um corpo deficiente como um sacrifício pelos outros. Se o feto for abortado por não ser fisicamente perfeito, as vidas que essa alma deveria ajudar têm de passar sem o seu amor e sem o seu sacrifício em seu favor.
Realmente, a alma pode ser mesmo um Cristo ou um portador de luz com uma mestria búdica que se ofereceu para entrar naquele corpo fisicamente imperfeito para ajudar a Terra, expiando carma mundial. Quando um aborto é recomendado porque o feto é “imperfeito”, como pode alguém saber se sua alma está encarnando para cumprir o resto do seu carma e depois ascender? Como pode alguém saber se um Cristo está vindo ao mundo, para acabar sendo crucificado no ventre?
Se a criança for dada para adoção, outras pessoas terão a oportunidade de cuidar dela. Ao fazê-lo, poderão alimentar a chama da misericórdia em seus próprios corações, cuidando de uma criança que não é fisicamente perfeita.
É melhor deixar que Deus determine o que vai se manifestar e que os pais aceitem o cargo de serem realmente pais. Certas condições são genéticas e outras são cármicas. Todavia algumas dessas condições cármicas também podem ser aliviadas pela misericórdia do pai e da mãe que ganharam sabedoria e conseguem compreender qual a química corporal correta para apoiar a vida no ventre.
As circunstâncias da vida são para aprender suas lições. Deus está nos ensinando de muitas formas, incluindo experiência e carma. Não podemos aprender apenas com os livros. Viemos da vida e temos de ir buscar nela algumas das nossas lições mais importantes.
Texto extraído do livro: Quero Nascer - O Brado da Alma
De Eluizabeth C. Prophet
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