quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Arte de Não Condenar os Outros


Pergunta:
 
É verdade que não temos o direito a condenar as pessoas, e que deveríamos condenar apenas a sua conduta?
 
W. Q. J. :
 
Não consigo ver por que razão,  para  treinar o sentido moral, alguém teria que praticar a condenação dos outros. A necessidade de condenação nunca deixará de existir,  se nos dedicarmos a praticá-la,   enquanto esperamos que o mundo fique tão bom que já não haja mais ninguém para condenar. Tenho a impressão de que seria uma  doutrina não-teosófica  afirmar que o nosso senso moral deve, ou pode, ser adequadamente cultivado através da prática da condenação dos outros.
 
O pensamento citado na pergunta nunca foi visto por seu autor ou autores como algo a ser aplicado às questões de Estado.  Ele se dirige apenas a discípulos que se esforçam por seguir as mais altas regras de conduta. Nós temos tamanha inclinação a condenar os outros e a ignorar as nossas próprias falhas que se recomenda aos  discípulos sinceros, como uma disciplina, cultivar o seu sentido moral observando seus próprios erros, e deixar que os outros façam o mesmo por si mesmos; mas quando a ocasião exige uma condenação, é a ação errada que deve ser condenada.  Isto não se aplica a um juiz, ou a qualquer outra autoridade responsável, ou professor ou guia.  A idéia se  refere apenas  a aqueles que, pensando que o nosso tempo de vida é tão breve que não há tempo para que nos ocupemos com os erros dos outros, preferem aproveitar a sua oportunidade purificando a si mesmos, limpando a sua própria casa, tirando a viga do seu próprio olho. Porque todos os sábios e praticantes de Ocultismo[1] declaram que entre os fatos que se deve necessariamente conhecer está a realidade de que, cada vez que um homem cai na condenação de outro, ele é impedido por tal ação de ver seus próprios defeitos, e mais cedo ou mais  tarde seus defeitos aumentarão.  Quando um estudante sincero considera que essa afirmativa é correta, ele pensa duas vezes antes de condenar os outros e se dedica ao auto-exame  e ao auto-controle. Isso tomará todo o seu tempo. Nós não nascemos para ser  reformadores universais de todos os erros e abusos das outras pessoas, e os teosofistas não podem desperdiçar suas energias criticando outros.  Além disso, tenho sérias dúvidas sobre se  alguém já foi melhorado alguma vez devido às críticas feitas pelos seus conhecidos.  É a disciplina natural, e só ela, que faz o progresso. Na verdade, tenho observado ao longo de muito tempo que em 99 por cento dos casos, quando alguém  critica constantemente os outros,  os únicos resultados são uma maldosa satisfação consigo mesmo,  por parte do crítico, e raiva ou desprezo por parte da vítima das condenação.   Um exemplo será suficiente, como ilustração,  e é o seguinte: certa noite eu estava saindo de um trem com um amigo que  raramente perde uma oportunidade de assinalar ações erradas ou omissões equivocadas dos outros. Quando ele desembarcava,  um homem mal-vestido bloqueou sua passagem, aparentemente tentando embarcar.  Meu amigo, que era fisicamente forte,  pegou o homem pelos ombros, tirou-o da sua frente e disse: “A regra é que os passageiros devem desembarcar primeiro”. 
 
Resultado: enquanto ele saía dali com a sensação de que havia adequadamente corrigido um erro, o homem o amaldiçoou em voz alta, e pôde ser ouvido ao solicitar  uma oportunidade para usar de violência contra ele. Assim, para um deles –  talvez um homem nascido na adversidade –  o único resultado foi raiva e sentimentos destrutivos;  para  o crítico,  o resultado foi um tipo de auto-satisfação que é amplamente conhecido por ser inseparável da ilusão.
 
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[Traduzido do livro  “‘Forum’ Answers”, de William Q. Judge, The Theosophy Co., Los Angeles, EUA, 1982, 142 pp, ver pp. 26-27.]

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