sábado, 26 de dezembro de 2009

Carta a um amigo

Estive meditando sobre a questão da cremação a partir dos seus sentimentos com relação ao seu pai, e apesar de ainda não ter vivido tal experiência, senti que é uma condição extremamente necessária, tanto para quem vai como para quem fica. Estudamos os ensinamentos divinos, mas eles só se mostram reais a partir do momento que vivenciamos as palavras de luz recebidas. Enquanto elas são só palavras, creditamos a elas o poder e a sabedoria dos Mestres, mas a partir do momento em que elas se somam à nossa essência, sentimos o peso que elas representam sobre nós com a responsabilidade que nos cabe diante dos nossos atos. Esse é o caminho da Verdade, que apesar de doloroso, é o único que nos leva à liberdade.

Vivi como espírita a maior parte da minha vida, e como tal, a morte nunca foi barreira que impedisse um relacionamento entre um encarnado e um desencarnado; muito pelo contrário, o espiritismo enfatiza a necessidade desse relacionamento. Como católica, aprendi que o túmulo é o local de descanso das almas rumo ao paraíso ou ao purgatório, e que aqueles que aqui permanecem devem orar e respeitar os mortos, o que significa que os laços entre vivos e mortos permanecem ainda na esfera física. Alguns evangélicos acreditam que o túmulo é necessário para que a alma possa esperar o retorno de Jesus e a ressurreição dos mortos. Em outras palavras, entendo que, baseados em nossas crenças, enterramos nossos mortos para podermos continuar "vivendo" com eles a espera do dia em que estaremos juntos novamente. Esse processo transforma-se em peso cármico para vivos, mortos, aumentando o peso sobre o planeta. Como estudante dos ensinamentos dos Mestres Ascensos, aprendi que devemos libertarmo-nos de tudo que pertence a este mundo físico para podermos atingir o "paraíso", e nesse trabalho árduo, incluímos o desapego dos bens materiais, conceitos humanos, fraquezas, medos e entre tantos, o desapego dos sentimentos humanos que nos ligam aos nossos entes queridos, sentimentos esses que não são só de amor. Como podemos conseguir êxito nesse processo se estamos ligados aos túmulos de nossos parentes? Tendo a liberdade como princípio, sinto que a ruptura só se manifesta realmente quando não temos mais "aquele túmulo" para nos envolver nas sombras do passado. A partir de então, passamos a viver o presente rumo a um futuro mais iluminado. Em contrapartida, aquele que se foi, e estando livre do túmulo, pode seguir em direção à Luz. As palavras não traduzem o complexo teor de nossas lutas internas, mas nos mostram o caminho da liberdade.

A cremação nos traz a consciência de que somos UM ligado ao TODO.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Natal

O mês de dezembro sempre foi muito especial para mim. Desde muito pequena, garotinha ainda, esperava o mês do Natal como se eu vivesse pra isso. Minha família era católica como todas as outras (era raro encontrar uma família de outra religião), e o movimento neste mês resumia-se na montagem do presépio, da árvore e os preparativos para reunir toda a família em torno da mesa, simples, porém farta, e brindar o nascimento de Jesus. 
Minha árvore de Natal era sempre a mesma, artificial, com poucas bolas de vidro e muito algodão para imitar a neve. A casa tornava-se pequena no dia 25 com toda a família reunida. Mamãe fazia vestidos novos, comprava sapatos e meias (à prestação na lojinha do bairro) e assim todos, elegantemente trajados, esperávamos pela Noite Feliz. Era uma noite em que íamos dormir mais cedo, com os corações pulsando alegremente, pois a comemoração começava logo pela manhã do dia seguinte. Levantávamos cedo e vestíamos as roupas novas e íamos todos para a igreja receber o Menino Jesus que nascia. A missa cantada louvando o nascimento de Jesus, com o cheiro de incenso e mirra, ficou impregnada em minha alma. Faz parte do meu ser. Eu não seria quem eu sou hoje, sem o calor desta lembrança viva que me conduz, como se eu ainda fosse uma garotinha. Após a missa, brincávamos no átrio da igreja e depois voltávamos pra casa, e logo começávamos a sentir o cheiro de comida gostosa embalando nossas brincadeiras. Raramente ganhávamos presente. Mas não tinha a menor importância, porque o importante era aquela reunião feliz, brindando a vinda de Jesus com a inocência das crianças. Éramos muito felizes. O tempo foi passando, e a vida de todos tomando outro rumo. Cresci e passei a ter a minha família, e desde então espero pelo Natal da mesma forma que fazia quando era criança. Fico ansiosa, conto os dias, monto a árvore com muitas bolas coloridas (ainda tenho algumas de vidro), e sinto meu coração com a mesma pulsação de antigamente. Preparo a casa, compro roupa nova, faço o cardápio e espero. Espero, como uma criança, o nascimento de Jesus.
Após tantos anos, vivendo a mesma esperança e alegria, percebo com muita clareza, que o Natal pra mim continua sendo o dia em que nos dedicamos a louvar o nosso amado Mestre Jesus. Essa criança que nasce, significa a renovação e o fortalecimento da fé que sempre me guiou, e que foi imprescindível para que eu pudesse chegar até aqui. A vida foi muito pródiga, me proporcionando tantos testes, provas, situações difíceis, em que eu pude lutar e conquistar a vitória, porque esse menino sempre habitou em meu coração. Ele continua aqui dentro, crescendo a cada dia, fortalecendo-me e conduzindo-me pelo caminho da Verdade e da Vida. Este ano, mais uma vez, espero pelo Menino para que preencha o meu cálice com sua Luz e seu amor.
Amado Mestre Jesus, vem, vem, vem preencher a minha alma com o teu amor!
Ensina-me o caminho que me levará de volta à casa de Deus Pai!
Fortalece a minha vontade, na Sua vontade!
Ampara-me e protege-me, para que eu possa vencer os desafios deste mundo, preparando-me para unir-me a Ti!
Vem Jesus, eu Te recebo no altar do meu coração!
Eu Sou
Marcia


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Matheus 16:24

Então disse Jesus aos seus discípulos:
"Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, toma a sua cruz e siga-me".
Somente os Mestres podem colocar o mundo dentro de uma frase... "Se alguém quiser vir após mim...", parece tão óbvio, mas o que significa realmente? Ir aonde? Qual o caminho que nos leva a ...esse lugar? Entendemos o sentido do convite em nossos corações, mas o que devemos fazer?
Jesus viveu para nos mostrar a pureza do Ser. Ele nasceu sem mácula, sem pecado, mas e nós? Ao longo de nossa jornada aqui na Terra, assumimos posições, estabelecemos conceitos, criamos vínculos; como então seguir Seus passos, e chegar ao Seu reino? A explicação é fácil e simples, quando entendemos a necessidade de desenvolver o amor como fonte principal da vida, mas a partir daí, não se trata mais de entendimento e sim de coragem.

"Renuncie-se a si mesmo..."é o caminho, e para isso precisamos de fé, coragem, determinação, conhecimento e do acompanhamento constante dos Mestres e dos anjos, pois essa é a fonte de energia para nos sustentar nesse caminho íngreme e estreito que nos leva até Ele. Renunciar a que? Começamos então a compreender que precisamos "desfazer" tudo o que foi feito até agora. É como se nós fôssemos feitos com peças de quebra-cabeça, e cada peça estivesse encravada em nossa alma, sendo necessário muito esforço, empenho, dedicação, fé, para conseguirmos arrancar cada peça de egoísmo, vaidade, orgulho, cada distorção da vida que transformamos nesta roupagem que precisa ser substituída. Renunciar a todas as nossas criações humanas, vícios, maus hábitos, conceitos, apegos, e aos poucos trocando esta roupagem, hoje cheia de remendos, por uma veste branca, pura, tecida com o amor mais puro de nossos corações.
"Toma a sua cruz...", nos traz a memória dos nossos erros, e a necessidade de refazer o caminho, sentindo em nós mesmos o efeito do nosso próprio veneno. Esta é a Lei do Carma. Precisamos compreender através da vivência em nossa carne, os efeitos das nossas escolhas erradas, e a partir daí entregar toda esta bagagem para ser consumida no fogo sagrado.
Dedicarmo-nos à Deus pela oração constante, sincera, buscando a força, a proteção, a cura de nossas almas. Desenvolver as qualidades divinas, amando e compreendendo o próximo como a nós mesmos. Assim, estaremos "seguindo" o Mestre, até alcançarmos a pureza do nosso Ser, permitindo então, que a doçura do nosso Santo Cristo Pessoal nos conduza.
É um trabalho árduo e doloroso, a nossa "via crucis", mas ao fim dela, a nossa luz, com a qual fomos criados por Deus Pai/Mãe, resplandecerá. Todas as peças do quebra-cabeça terão sido removidas deixando transparecer e brilhar a Luz do Cristo que habita em nós.
Este é o verdadeiro sentido da Páscoa! A Renovação, a Ressurreição em Cristo.